Porto Velho, RO
O POVO RIBEIRINHO DO MADEIRA PEDE SOCORRO!
ESTIMADO PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA,
Nós, povo Ribeirinho do Madeira, moradores descendentes de migrantes nordestinos, que para cá vieram desde início do século XX, em busca de melhorias da qualidade de vida na floresta amazônica, longe das secas e da fome que dizimaram muitos de nossos parentes, hoje nos deparamos mais uma vez senhor Presidente, com a violação dos direitos fundamentais da pessoa humana.
Ao longo de décadas, nossos antepassados lutaram contra todas as doenças, o isolamento e a ausência total do Estado Brasileiro. Foi muito difícil construir uma vida nestas condições, entretanto, com nossa capacidade de resistência, aprendemos com os povos nativos, de geração a geração, que a natureza que nos envolve nos protege e nos dá tudo! Assim, os bisavós, avós e pais nos ensinaram a viver uma vida em abundância mesmo nas dificuldades…
Mas, Senhor Presidente da República, o progresso foi chegando a região a partir da década de 60… Abriram estradas, rodovias, hidrelétrica no Rio Jamari, cidades, assentamentos rurais e nós fomos esquecidos e afetados. Continuamos dependendo de nós mesmos, não nos enxergaram. Muitas famílias tiveram que continuar suas vidas nas cidades. Outras adentraram ainda mais nesta rica floresta para manter seu modo de vida de Povo da Floresta.
Agora, em pleno século XXI vemos mais uma vez o desenvolvimento chegar à região e nossas comunidades ribeirinhas afetadas diretamente pelas obras das barragens no Rio Madeira. Estamos perdendo o direito sobre nossas vidas. Não temos mais direito de ir e vir pelo Rio Madeira que sempre nos trouxe Vida. Agora, nós que ainda moramos perto das Cachoeiras de Santo Antonio e Jirau, estamos à mercê das empresas, que controlam nossas vidas. Nossos parentes e amigos não podem chegar até nossas casas se não tiver permissão das mesmas. De livre que sempre fomos passamos à condição de dependentes, mendigamos transporte e nossos direitos!
Dezenas de famílias foram e estão sendo desalojadas de suas casas e nem todos estão recebendo suas indenizações, remanejamento ou reassentamento justo, merecido e condizente com a história de cada família, com o tempo de moradia e a expectativa de vida das famílias no local.
Nem mesmo a memória de nossos parentes sepultados à beira do Rio Madeira é respeitada. Cemitérios antigos estão sendo soterrados para dar lugar ao canteiro de obras. Além de nos tirarem de nossos espaços de vivência na beira do Madeira, negam-nos o direito a nossa memória, parte fundamental de nossa origem e história.
Diante disso Senhor Presidente, pedimos vossa atenção especial para os povos atingidos e ameaçados pelas barragens, o Complexo Madeira. Não somos contra o desenvolvimento. Somos contra a violação de nossos direitos fundamentais garantidos pela Constituição Brasileira de 1988, que nos assegura qualidade de vida, moradia, alimentação sadia e o direito de ir e vir. Tudo que foi construído por nossos antigos e por nós nas barrancas do Madeira está sendo negado pelos projetos em andamento.
Por isso, fazemos chegar até suas mãos esta Carta Presidente LULA, que é nosso pedido de socorro. Estão matando nossa história, violando nossos direitos de Povos da Floresta.